Boldly going and boldly it went...
De todas as minhas nerdices, ser trekker sempre foi um lado light. Nunca fui Sheldon (leia-se xiita) para tratar a série como uma coisa sagrada. Aliás, nada pra mim é sagrado.
Sempre fui fã dos filmes da tripulação original e foi com eles que aprendi a gostar do universo, mas conhecia pouco dele. Fui correr atrás do prejuízo quando comecei a jogar o rpg e tinha que ter um certo conhecimento do que estava fazendo.
Assistir a série clássica depois de velho, é ter que separar os bons roteiros (e são muito bons mesmo) do visual que hoje é mais do que risível. É difícil mesmo, mas é o que os fãs Sheldons fazem com extrema naturalidade e eu não consigo. Ao menos os filmes, com já aqueles clássicos uniformes vermelhos e um visual mais moderno, já caem muito melhor.
As séries novas, de TNG até Enterprise também possuem bons visuais, mas piores roteiros, salvando-se alguma coisa daquela meiuca, é claro. Cada um dos novos spin-offs tiveram seus momentos de brilhantismo (exceto Voyager que foi uma merda constante). Mas foram nos longas mais recentes que a franquia começou a agonizar, já que era um pior que o outro. Pra não dizer que foram todos uma titica, First Contact se salva. E assim como um computador que foi usado por muito tempo, a franquia estava precisando de uma limpeza de disco, uma desfragmentação e depois um reboot.
E aí entra o novo Star Trek, de J.J. Abrams, um sujeito que eu não considero nenhum gênio televisivo ou cinematográfico, mas apenas extremamente competente e profissional, sabendo contar uma história e entreter muito bem. O filme reconta o passado de Kirk, Spock e cia, respeitando muitas coisas mas mudando várias outras (e de forma corajosa), indo audaciosamnte onde a franquia nunca esteve.
Na trama, o romulando Nero (Eric Bana), volta ao passado buscando vingança à Federação por algo que ainda vai acontecer. E ele já chega botando pra fuder e alterando a história. Na sua cola, vêm o Spock do futuro (Nimoy) que vai dar aquela ajudinha pra botar as coisas de volta nos trilhos. No meio dessa merda toda, conhecemos o jovem James Tiberius Kirk (Chris Pine), um cara rebelde do Iowa, sem perspectiva de vida, até que uma conversinha com o Cap. Christopher Pike (Bruce Greenwood) o convence a se alistar na Frota Estelar. Ao mesmo tempo, um jovem meio-vulcano chamado Spock (Sylar... digo... Zachary Quinto) recusa o convite de entrar na Academia de Ciências de Vulcan para ir também para a Frota. E assim é o primeiro ato do longa, mostrando a vida dos jovens cadetes antes que a merda atinja o ventilador e do segundo ato em diante eles tenham que, meio prematuramente, se aventurar a bordo da USS Enterprise e enfrentar uma ameça nunca antes vista.
O filme é excelente. Os personagens estão lá, na pele de seus novos interprétes, em maior ou menor escala. Um dos que mais impressiona, além de Quinto pela semelhaça física com Nimoy, é Karl Urban, que nada tem a ver com as fuças de DeForest Kelley, mas consegue encarnar o neurótico Dr. McCoy por pura interpretação. Nas demais cadeiras temos Jonh Cho como Sulu (Harold & Kumar... yaaaaaay), Zoe Saldanha como Uhura, Anton Yelchin como Chekov e o engraçadíssimo Simon Pegg (Shaun of the Dead alguém?) como "beam me up" Scotty.
As cenas de ação são impressionantes, complementadas com efeitos especiais de cair o queixo. O único e gravíssimo erro do filme foi deixar de lado a famosa trilha de Jerry Goldsmith, que até aparece nos créditos, junto com a trilha da série dos anos 60, mas faz falta ao longo da projeção. Feio, muito feio. Menos uma estrelinha na sua testa, Michael Giocchino.
Como fãs, já estamos fartos de histórias que incluem viagens no tempo. Mas nesse filme ela teve um propósito que os fãs Sheldons não conseguiram ou não querem enxergar. Com Nero chegando e esmerdalhando a linha temporal logo de cara, uma nova se cria e Star Trek se divide em dois universos. Aquele clássico que os Sheldons tanto adoram, está lá, preservado... e em coleções de dvds para vocês assistirem até os olhos sangrarem e dormirem abraçadinhos com o boneco inflável do Shatner. E a nova, para uma nova geração de fãs e de também fãs antigos e menos ranhetas, cujo os Sheldons podem escolher nem chegar perto, mas peloamordedeus, calem a matraca e deixa quem curtiu o filme curtir agora o futuro dessa NOVA franquia.
Vida longa e próspera para o novo universo Trek... e eu quero voltar a jogar o rpg.
T+