A oitava maravilha da sétima arte...
King Kong, de Peter Jackson, é perfeito! Não pode existir melhor termo para definir o último trabalho (ele chama isso de trabalho... ah... hahahaha) do responsável pela melhor trilogia já filmada. Eu ainda estou com três palmos de boca aberta (mais ou menos o que acontece ao pobre tiranossauro), a mesma expressão de quando saí da minha primeira sessão de O Retorno do Rei, a dois anos atrás.
Bem, 3 horas e sete minutos que não cansam... o filme é FOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOODA!
Começa mostrando a vida na Nova Iorque dos anos 30, época da grande depressão. Conhecemos a atriz batalhadora Ann Darrow (Naomi Watts, linda, engraçada, contagiante), especializada em comédias, às voltas com o fechamento do teatro onde ela e sua trupe trabalhavam. Ao mesmo tempo, vemos um Carl Denham (Jack Black, perfeito no papel, ainda demonstrando seu lado sombrio) tentando vender seu filme de gosto duvidoso para alguns executivos da industria. Quando percebe que vão vetar seu próximo projeto, ele toma a dianteira e se apressa para meter todo mundo a bordo de um anvio e partir para a locação de seus sonhos molhados, a Ilha da Caveira, um lugar mítico, indicado num mapa misterioso que foi parar nas mãos do impetuoso diretor. Bem, no meio da correria ele descobre que sua atriz principal pulou fora. Rola até uma referência à Fay Wray (a Ann Darrow de 1933), quando ele a menciona numa lista de possíveis substitutas. No desespero, Carl sai pelas ruas da Big Apple à procura de sua estrela, e encontra a pobre Ann roubando uma maça para não morrer de fome.
Depois disso, já convencida a partir numa viagem rumo ao desconhecido, Ann embarca no Venture, conhecendo a bordo o roteirista Jack Driscoll (Adrien Brody, mandando bem como sempre). Outros personagens desfilam pela tela, muitos deles criados para esta versão, como Bruce Baxter (Kyle Chandler, do seriado Early Edition), um ator canastrão que seria o astro da produção de Denham. Ele e Ann interpretam uma ceninha que é uma homenagem à cena em que a Ann Darrow original conhece o Jack Driscoll original, com toda canastrice e "naturalidade" que os atores da época interpretavam. Perfeito! Toque de mestre da parte do tio Jackson. Na viagem de ida, também conhecemos o cozinheiro Lumpy (Andy "Smeagol" Serkis) e o primeiro oficial, o Sr. Hayes (Evan Parke), ambos igualmente interessantes, principalmente na relação de amizade quase paternal que Hayes demonstra para com o jovem Jimmy (Jamie Bell, de Billy Eliot), o mais novo da tripulação e o mais sedento por alguma ação. Ou seja, o filme perde o devido tempo apresentando seus personagens principais e até desenvolvendo secundários.
Mesmo antes do macacão digital aparecer, o filme já mostra que é muito foda. Jackson prova que o nerd supremo, um cara que entende que sem roteiro, não existe CGI no mundo que salve. Então, ele mostra que sabe dar valor a história e a seus personagens. Mas ainda assim, quando a joselitice começa, sai de baixo. Os nativos da Ilha da Caveira são selvagens e assustadores. Caem matando. A cena clássica de Ann sendo oferecida em sacríficio é movida a tambores nervosos, acompanhados de um cenário maravilhoso... e tenebroso (show de miniaturas aqui e por todo o filme). Daí pra frente, todo mundo já conhece a história, mas vê-la sob a visão grandiosa de Jackson são outros quinhentos. Basta dizer que você chora que nem uma criança na cena de morte do gorilão.
Os efeitos especiais chegam a estar superiores aos vistos em sua trilogia do anel. Kong (com os movimentos e a expressão facial de Andy Serkis) é praticamente de carne osso, uma criatura torturada por ser o último de sua espécie (Peter toma o cuidado de mostrar até alguns ossos de outros gorilas gigantes), que encontra paixão na figura de Ann. As cenas entre os dois são os pontos altos do filme, assim como a pancadaria entre Kong contra três... eu disse TRÊS... tiranossauros, para defender a mulher amada de ser devorada. O gorila solto e enfurecido em Nova Iorque também é um espetáculo a parte. De repente, os bichos digitais de Jurassic Park são uma memória de um passado distante, porque a fauna da Ilha da Caveira é muito mais fantástica de se ver. Morcegos enormes, muitos dinossauros, insetos gigantes (na cena mais creepy que eu já vi) e outros bichos. A Weta mais uma vez mostra que é a casa suprema de efeitos especiais e visuais. Mestre Richard Taylor, eu me curvo diante de vossa genialidade. Oscar novamente, alguém? Aliás, Oscar pra todo mundo. Por que como eu já disse, o filme não tem apenas méritos técnicos. Eu disse que era perfeito, não disse? Isso engloba a porra toda.
King Kong fica aqui como a aventura pulp suprema. Um filme que passeia por todos os gêneros, do romance ao terror, da comédia à aventura. Faz rir, chorar, deitar, rolar, dar a patinha e muito mais. Se com a obra de Tolkien, Peter Jackson tinha história demais para tentar condensar em filme, aqui ele tem a chance de pegar uma produçao de 100 minutos, com um roteiro simples e expandir com toda liberdade possível para 187, sem precisar se preocupar com nenhum exército de fãs, famintos por fidelidade. Afinal, o maior fã de Kong, é ele mesmo.
Que irônico! Foi preciso um neo-zelandês para lembrar a Hollywood como se faz filmes.
T+